A Voz do Autor – Entrevista com a autora da Editus, Maria Luiza Santos

Com mais de um livro publicado pela Editus – Editora da UESC, a professora Maria Luiza Santos é a entrevistada desta semana na coluna A Voz do Autor. Pesquisadora da área de migrações e identidades, suas mais recentes obras são curiosamente voltadas para o público infanto-juvenil, buscando mostrar para as crianças a importância do senso de pertencimento ao lugar onde vive. A autora, além de pesquisadora, é professora adjunta da Universidade Estadual de Santa Cruz e também autora dos livros acadêmicos “O quibe no tabuleiro da baiana” (2006) e “Fluxos Contemporâneos” (2014). Em nossa conversa, Maria Luiza Santos comenta tanto sobre sua produção científica quanto a respeito das suas experiências na literatura infantil. Ela comenta ainda sua participação em ações de fomento à leitura, demonstrando sua preocupação constante com a formação do público leitor.

1. Em parceria com a Editus, você publicou dois títulos voltados para o público infanto-juvenil: "Tonico descobre que é de todo lugar" e "As viagens de Carola Migrista... Migrante ou Turista?". Ambos tratam da questão da migração e do sentimento de pertencimento a um determinado lugar. Por que é importante tratar destes temas com as crianças?

Vivemos em um mundo complexo e controverso. Temos muito conforto, muita tecnologia, amplo desenvolvimento científico nas diversas áreas, mas carecemos de respeito, afetividade e solidariedade. A identificação entre o eu e o outro tem sido feita de forma equivocada, ou seja, o que me interessa é relevante, o que não me diz respeito não precisa ser resolvido... Penso ser essa uma forma equivocada de ver o mundo. Trabalhar o conceito de alteridade com crianças e jovens pressupõe o crescimento de pessoas com um olhar plural sobre a humanidade e com respeito ao mundo dos que não lhe são iguais, entendendo a diferença não como um problema, mas como uma condição natural. Hoje o tema das migrações e identidade é bastante recorrente. Estamos presenciando nessa seara ações altamente danosas à humanidade. Mas, ao mesmo tempo, bons exemplos surgem por parte de organizações, agências e sociedade civil. No momento em que podemos divulgar esse debate através de artigos científicos, entrevistas e adequando o contexto à literatura infanto-juvenil, acreditamos que estamos fomentando uma sociedade melhor. A Editus encampou a ideia e, além da publicação, cuida amplamente da divulgação, o que torna o trabalho ainda mais prazeroso e com um bom nível de qualidade. 

2. Você também está engajada em projetos de fomento à leitura, como o projeto Lápis na Mão, da TV Santa Cruz, e a ação Leitura Vai à Praça. Poderia falar um pouco mais sobre essas atividades e por que acredita ser importante o incentivo à leitura?

Tais projetos complementam a atividade do escritor. Poder interagir com o público que lê o seu livro é muito interessante. É um feedback constante, ao vivo e em cores. Ambas as iniciativas deram um suporte bastante positivo à minha escrita. Projetos de novos textos foram alterados, penso que para melhor, devido à essa interação com o público através das rodas de entrevistas. É via de mão dupla, ou tripla, se assim podemos dizer, entre autor, comunidade e universidade, pois quebra as barreiras da inacessibilidade entre o público e o autor e também entre a comunidade e a própria universidade.  

3. Além dos livros infantis, você também possui publicações acadêmicas, que também dizem respeito à questão da identidade com o local em que se vive. Seu livro "Fluxos contemporâneos", por exemplo, trata das configurações identitárias na Região Cacaueira, na Bahia. Qual seria o papel do migrante na formação cultural e desenvolvimento desta região?

"Fluxos Contemporâneos" teve origem por ocasião do doutorado, quando optei por perceber a região sul baiana também pelo olhar dos que aqui chegam, no caso o migrante de mão de obra qualificada. Foi um trabalho muito intenso, pois ao mesmo tempo estava lidando com migrantes e acadêmicos. Estamos falando de uma região tradicionalista, por excelência, calcada na monocultura cacaueira. Portanto, o diferente, o “chegante”, em termos de pessoas, e a diversidade, em termos culturais, não foram facilmente palatáveis. Mas, o novo e as mudanças chegam para todos. Penso que sempre para melhor... Ressignifica espaços, reconfigura conceitos e dá movimento a culturas estacionadas. Acredito que o papel desses migrantes é a soma de aspectos e vivências que são trazidos de outros espaços e que gradativamente estão sendo inseridos no contexto sul baiano. Por outro lado, há também a absorção dos costumes e cultura local para aqueles que aqui aportam em um movimento de transformação constante, que ajuda no crescimento daqueles que sabem aproveitar.


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