Artigos Convidados Joana De Conti
O universo dos livros digitais, apesar de não ser mais uma parte nova – muito menos irrelevante – do mercado editorial, ainda aparenta ser desconhecido entre as editoras educacionais. Isso é compreensível, visto o medo inicial que o e-book despertou em todos nós, amantes do livro impresso, de que poderia canibalizar o livro, as livrarias e as editoras. Felizmente, nenhum dos receios iniciais se concretizou. É fundamental, portanto, que o mercado como um todo se familiarize com o livro digital e explore o potencial comercial – de acessibilidade e de alcance – desse formato. Apesar de ter trabalhado em uma editora por alguns anos com o processo de conversão para o livro digital, pretendo explicar neste texto como funciona a distribuição de um e-book. Digamos que a sua editora deseja publicar livros digitais. A conversão seria uma primeira etapa e pode ser feita internamente, por uma equipe dentro da editora, ou por uma empresa de conversão externa. Com os livros prontos, surge uma dúvida: como fazê-los chegarem às lojas? O envio direto para as lojas é possível, mas por conta das especificidades de cada uma delas – Saraiva, Amazon, Apple, Cultura, Google, só para citar algumas – quanto aos contratos, aos formatos de livros aceitos, à validação dos arquivos, aos relatórios de vendas, entre outras questões, esse envio é bastante complicado. Eis que surge o trabalho das distribuidoras no cenário. Atualmente trabalho em uma distribuidora, por isso falarei na primeira pessoa. As distribuidoras são os intermediários entre editoras e lojas; somos os responsáveis por fazer o livro chegar de uma ponta a outra. Muitas vezes comparamos o nosso trabalho com o de um caminhão. Sim, aquele caminhão de entregas responsável por recolher determinado produto na fonte na qual ele é produzido e levar para a loja na qual ele será vendido. Aproveito ainda essa metáfora para me aprofundar na explicação sobre o que faz uma distribuidora de livros digitais. O trabalho de um caminhão parece simples, não é? Para a minha alegria diária e ocasional desespero, esse não é o caso. Pense, para começar, na complexa estrutura de logística que há por trás de quase todas as simples entregas de um caminhão: a) organização viária para economia de custos; b) estabelecimento de prioridades, definidas pelos clientes ou pelos produtos; c) horários de funcionamento de portarias e estoques; d) diferenças de prazos de validade e de fragilidade dos materiais… Eu entendo pouco do que está envolvido no trabalho de um caminhão de entrega, mas poderia continuar citando razões para ele ser bem menos simples do que parece. Agora transponha todo o raciocínio anterior para o universo do livro digital e você terá uma ideia do que surge na rotina de quem trabalha numa distribuidora de e-books:
a) Estrutura para envio de dados com segurança: lidamos diariamente com catálogos inteiros de dezenas de editoras e preciso fazer esse material circular na internet sem deixar que o best seller que será lançado daqui a dois meses caia nas mãos de algum site de pirataria;
b) Respeito aos prazos e às prioridades dos clientes: se determinado livro deve ser lançado daqui a dois dias, não podemos permitir que determinada loja o coloque à venda hoje ou daqui a três dias;
c) Diferenças de formatos: os livros digitais podem ter diferentes formatos, mas nem todos são aceitos por todas as lojas. É necessário não apenas conhecer essas especificações, mas explicar para as editoras, por exemplo, por qual razão seu livro de layout fixo não chegará na Amazon (que usa um formato próprio e exige um outro arquivo no formato equivalente, o KF8);
d) Controle de qualidade dos arquivos e metadados: corrigir os arquivos antes do envio para garantir que ele chegue corretamente às lojas não é o bastante. Todas as lojas têm um controle de qualidade posterior ao início da venda que identifica erros de conteúdo no texto, aponta se o livro possui conteúdo inadequado para menores ou nos mostra, por exemplo, que a capa do livro está com um nome diferente do indicado nos metadados. Assim que recebo um aviso de problema com determinado livro, precisamos atualizar os metadados ou corrigir o arquivo e subir uma atualização na plataforma.
Lidar com catálogos, sugerir novas conversões de livros que ainda não possuem formato digital, propor campanhas de divulgação ou pensar, juntamente com os editores ou com as lojas, em ações que estimulem o mercado editorial para o livro digital são parte da nossa rotina. Como alguém que já trabalhou em editora, posso falar por experiência própria que o trabalho da distribuidora, assim como do caminhão, não é simples. Mas ele é, sem dúvida alguma, fundamental para simplificar o trabalho das editoras.
Joana De Conti é mestre em Antropologia e entusiasta dos livros acadêmicos. Mudou de área quando descobriu os livros digitais. Ela trabalhou por vários anos no departamento digital da editora Rocco. Atualmente trabalha como assistente de contas na Bookwire, uma empresa alemã de distribuição de livros digitais. O cuidado com a qualidade dos metadados, com conhecer minuciosamente o catálogo das editoras e a preocupação com excelência e inovação nos arquivos dos livros digitais são parte da sua rotina.
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