Voz do Autor …

Voz do Autor – Entrevista com autoras da Argos Editora

voz-do-autor-entrevista-com-autoras-da-argos-editora

Toda arte traz formas de educar? Talvez nem todas, mas pelo menos a importância do cinema no ensino é garantido pelas pesquisadoras Rosilene de Fatima Koscianski da Silveira e Silemar Medeiros da Silva. Elas são organizadoras do livro "Cinema, infância e imaginação: tecendo diálogos", publicado pela Argos Editora da Unochapecó, e foram as entrevistadas dessa semana para a coluna “A Voz do Autor”. Os textos contidos na coletânea foram escritos coletivamente e elaborados pelo Grupo de Pesquisa em Educação Imaginativa (GPEI), inserido no Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação Estética (Gedest), da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), sendo que Rosilene Koscianski é mestre em Educação pela Unesc, enquanto que Silemar Medeiros é graduada em Educação Artística também pela Unesc. Na entrevista, cujas perguntas foram respondidas coletivamente, ambas contam um pouco sobre o trabalho de seleção dos textos para o livro e a relevância das expressões artísticas para o ensino na infância.

1) Primeiramente, qual unidade foi buscada no momento da seleção de textos para compor o livro "Cinema, infância e imaginação"? O que estes escritos têm em comum , para além do tema? 

Nossa primeira ação ao organizar "Cinema, infância e imaginação: tecendo diálogos" foi agrupar textos escritos ao longo de 10 anos de estudos no Grupo de Pesquisa em Educação Imaginativa inserido no Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação Estética na Universidade do Extremo Sul Catarinense – GPEI/GEDEST/UNESC. Essas escritas ao refletirem sobre crianças e infâncias nos filmes e animações analisados têm a intenção de dialogar com professores, pais, cuidadores de crianças, enfim – educadores – a respeito da arte de ver cinema. E esta requer a educação do olhar. Inicialmente deixarmo-nos levar pelo espetáculo visual e sonoro que mostra a protagonização das crianças nos diferenciados meios culturais, e assim, vivenciarmos uma experiência estética. Na sequência ou simultaneamente foi refletir a organização sociocultural das sociedades, os comportamentos e as atitudes individuais onde se passa o enredo da película, possibilitando-nos perceber as diferentes infâncias de diversos lugares do mundo. Nessa análise processa-se educação – a formação humana – para a lida com crianças e com o próprio sujeito espectador, seja ele criança ou adulto. Nesse ínterim também se verificou se a película é sobre crianças, para crianças ou produzida por crianças. Portanto, nossas escritas têm em comum a educação da pessoa – crianças e adultos – a formação humana que busca o auxílio da sétima arte – o cinema. 

2) De que maneiras o cinema pode ser utilizado como ferramenta no processo de educação? Existem propósitos além da sensibilização artística do aluno? 

A arte, em suas diferentes manifestações é, sobretudo, educativa. Entendemos que inicialmente o filme ou a animação seja apreciado pelos próprios componentes artísticos que o constitui, como, por exemplo, imagem, trama dos personagens, sonoplastia, cenografia. Possibilitar, dessa forma, que as crianças sentem-se diante da tela e fruam informalmente partindo de seu próprio repertório. Nesse sentido, a sensibilização artística/estética/poética, favorece descobertas, indagações e o conhecimento de diferentes cenários e culturas. Esse contato por sua vez contribuiu para ampliar a visão das crianças e, por seu turno do espectador adulto, sobre diferentes formas das crianças protagonizarem a vida e viverem suas diferenciadas infâncias.

O cinema, enquanto ferramenta que potencializa o processo educativo, é aqui apresentado para ser também utilizado formalmente nas instituições de ensino. Nesse sentido, um filme ou um anime, pode ser abordado em debates, ampliando a visão dos mais diferenciados conteúdos trabalhados com as crianças, em especial, o próprio cinema. 

3) Que tipos de ações vocês acreditam que são possíveis de realizar para que, desde cedo, as crianças valorizem as expressões artísticas? 

A criança tem o direito de conhecer o cinema. É preciso promover o encontro da criança com o cinema, levá-la ao cinema. A partir da fruição ao se propiciar experiências estéticas, as quais podem ser prazerosas ou trazer à tona emoções doloridas, agenciar o envolvimento da criança com outras expressões artísticas. Vamos ao cinema com crianças para juntos alegrarmo-nos ou entristecermo-nos com a trama representada na tela. A partir daí, outras formas de arte podem ser empregadas para a escuta das crianças, como, por exemplo, a dança, a pintura, a escultura, o teatro utilizados para que os pequenos (re)criem suas próprias expressões artísticas na apreciação da película assistida. Ou, ainda, junto com crianças, podemos nutri-las para que produzam um filme, animação ou outro recurso audiovisual. 

Finalizamos com a compreensão de que é fundamental oferecer experiências estéticas significativas às pessoas. Assim é importante que crianças e adultos possam frequentar exposições; acessem livros de arte de qualidade; tenham a oportunidade de trocar ideias com inúmeras pessoas; experimentem variadas linguagens artísticas, como música, dança, literatura, teatro, cinema, entre outras. Destarte, criar uma cultura de cinema, entre outras expressões é um desafio de longo prazo. Afinal, a formação cultural não é dada, mas conquistada lentamente e, sobretudo, permanentemente, uma vez que só é possível gostarmos daquilo que conhecemos.

Compartilhe esta Publicação: