Obra de Ricupero, …

Obra de Ricupero, lançada pela Editora Unesp, é testemunho da história do Brasil

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Os capítulos que se leem num crescendo de interesse e de tensão, com linguagem límpida e fluida, ritmada e bem articulada nas páginas de “Memórias”, de Rubens Ricupero, lançamento da Editora Unesp, revelam o que ele viu e viveu por mais de sete décadas.

Rubens Ricupero inspirou-se nos cadernos em que sua mãe escreveu durante toda sua vida, as histórias da própria família, de imigrantes italianos, para evocar o bairro do Brás de sua infância, durante o Estado Novo e a Segunda Guerra. Entre suas primeiras lembranças, agosto de 1944, a comemoração no grupo escolar da Libertação de Paris. Agora, quando o Real completa 30 anos, Ricupero descreve – na condição privilegiada de ter sido ministro da Fazenda nesse período –, as pressões políticas e sociais que poderiam ter provocado o fracasso da moeda. Sua narrativa traz um novo dado – o da importância da comunicação com o público – por inúmeras mídias, rádio, televisão, entrevistas, as conversas que ocorreram junto ao homem comum, aos brasileiros nas ruas, com as donas de casa, para explicar o Plano Real, evidenciam que seu êxito se deu por essa profícua comunicação e não apenas pelos aspectos econômicos.

Em 1961, foi um dos primeiros voluntários a morar em Brasília, ainda em obras, e assistiu de perto a renúncia de Jânio, viveu a angústia do Golpe de 1964, sobreviveu às perseguições do Ato Institucional nº 1. Trabalhou com os chanceleres Afonso Arinos e San Tiago Dantas. Foi pioneiro no estabelecimento das relações culturais com a África, impulsionando o estudo dos temas afro-brasileiros. Quando voltou à cena pública ao fim do regime militar, escreveu, enquanto assessor internacional do presidente-eleito, Tancredo Neves, o Diário de Bordo: a viagem presidencial de Tancredo, um dos livros basilares para a compreensão desse grave período da história do Brasil. Em 1985, foi nomeado subchefe da Casa Civil, permanecendo como conselheiro de Sarney até ser nomeado chefe de missão junto à ONU, em Genebra, e ao GATT, que antecedeu a Organização Mundial de Comércio. Quando embaixador em Washington, Itamar o convocou para assumir o Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, tendo deixado esse posto para substituir FHC como ministro da Fazenda, assumindo a complexa condução da preparação e lançamento do Real. Em suas memórias, Ricupero encara com franqueza o episódio da parabólica, sem autocomiseração ou fuga de responsabilidade.

Chefiou a missão brasileira junto à ONU em Genebra e no Conselho dos Direitos Humanos. Durante nove anos dirigiu a UNCTAD, no esforço de ajudar o desenvolvimento dos países mais pobres do mundo, sobretudo na África. Teve oportunidade de viver a essência da vocação diplomática traduzida na paixão pela diversidade das culturas e na compaixão pelo sofrimento dos pobres e vulneráveis. No recente período obscurantista pelo qual passou o país, defendeu a democracia e a diplomacia brasileira, no momento em que um “antiministro” ameaçava a continuidade dessa tradição. Seus relatos de viagens pelo mundo e pelos livros, enlaçam conhecimentos de literatura, poesia, cinema, o estudo avançado da história antiga e recente, na busca permanente pelo auto aperfeiçoamento. "Memórias” mais dos outros que de si próprio, as evocações revivem as pessoas extraordinárias que conheceu ou o marcaram - João Cabral, San Tiago, Vinícius Maria Werneck, Wladimir Murtinho e Tuni, Merquior, Fábio Konder Comparato, Nilo Scalzo, Dante Moreira Leite - em seu caminho percorrido ao lado de Marisa, numa união de 60 anos, alicerçada por sua fé religiosa.

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