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Gás natural

Gás natural

Editora Udesc
SINOPSE

A obra apresenta uma análise multifacetada do mercado de gás natural no Brasil, combinando reflexões técnicas, históricas e políticas. O livro, fruto de pesquisas realizadas entre 2020 e 2024 na UDESC, explora as mudanças estruturais que transformaram a governança e o uso do gás natural, destacando a crescente privatização e as implicações sociais e econômicas resultantes. Focaliza-se, especialmente, nas dinâmicas do mercado catarinense, cuja especificidade reside na participação ativa de industriais locais na gestão do setor. Os textos abordam a trajetória do gás natural, destacando o impacto das concessões públicas e privatizações, que ganharam força a partir da década de 1990. O autor critica a falta de planejamento estatal e a regulação fragilizada, que, segundo ele, permitiram um predomínio de interesses privados e oligopólios, especialmente após a saída da Petrobras de partes essenciais da cadeia de distribuição. Essa reconfiguração resultou na entrada de novos players no mercado, como alianças entre empresas japonesas e grupos brasileiros, que reposicionaram o gás como recurso para consumo residencial, em detrimento de sua função industrial. Santa Catarina é apresentada como um caso singular no país. Diferentemente de outros estados, o setor de gás no estado conta com a participação de industriais locais em uma sociedade de economia mista, garantindo maior alinhamento entre a infraestrutura energética e o setor produtivo. Essa particularidade reflete um pacto histórico de poder que remonta à industrialização do estado, fomentando resistência à desindustrialização em um cenário nacional de retrocesso industrial. O livro também reflete sobre a geopolítica do gás natural e os desafios da abertura do mercado. Estrella aponta contradições nas políticas neoliberais, como o "Choque de Energia Barata", que prometia reduzir tarifas, mas culminou em aumentos sucessivos no preço do gás, exacerbados pela indexação ao dólar e às oscilações do petróleo. Ele argumenta que a desestatização, longe de promover competitividade, fortaleceu monopólios privados e enfraqueceu a soberania energética. Além das questões econômicas, o autor discute o papel do gás natural no direito à cidade e no desenvolvimento urbano. Destaca o impacto ambiental positivo do uso do gás em substituição a energias mais poluentes, mas alerta para a concentração do serviço em áreas urbanas privilegiadas, reforçando desigualdades regionais. Com base no pensamento de economistas como Ignacio Rangel, a obra propõe repensar o equilíbrio entre estatização e privatização, sugerindo que a infraestrutura energética seja gerida de forma a combinar eficiência econômica com justiça social. Argumenta-se que o futuro do setor depende de uma regulação mais robusta, investimentos em infraestrutura e um planejamento estatal estratégico. Em essência, o livro é um convite à reflexão sobre o papel do gás natural no Brasil, abordando suas dimensões econômicas, políticas e sociais, e destacando caminhos para um desenvolvimento mais sustentável e inclusivo.

  • : Estrella, Leonardo Mosimann